Dizem que amor é tudo aquilo o que você sente, mas não pode tocar. Ok, talvez seja mesmo, mas com a vida aprendi que raiva também. E ódio idem.

Meu namorado me traiu com a minha melhor amiga e ela engravidou dele. Aposto que isso já deve ter sido roteiro para uma dessas péssimas novelas mexicanas. Mas meu nome não é Maria do Bairro e, juro: quando é com você, a coisa fica BEM mais séria. Aqui na sala de emergência do hospital, logo depois de ter tido um surto com a notícia, imaginei como seria ótimo se tudo isso fosse só uma grande piada. O Bruno me contaria que estava zoando e que tinha inventado essa história absurda para me dar um susto, a Camila apareceria fofa como sempre pronta pra me dar um abraço e a vida seguiria normalmente como estava rolando até agora. Mas quando se trata do mundo fora da minha imaginação, o final é sempre infeliz.

Eu estava lá, sozinha, com aquelas paredes pintadas de um tom clarinho de verde que me lembravam um quarto de bebê. Não! Não posso pensar em bebês!

Encostei a cabeça de leve pro lado e me dei conta que esbarrei, sem querer, no cara que estava sentado à minha direita. Sei que vou parecer ridícula por confessar uma coisa dessas, mas sempre fico meio tensa com salas de emergência de hospitais. Não, a afirmação ridícula não está nessa frase, mas no fato de que tento não falar muito com as pessoas por não saber que tipo de doença as levou até ali. Vai que…

“Chris? É você? Caramba, quanto tempo! Faz o que… Uns 7 anos que a gente não se vê? Você Mudou tanto!”

Minha memória demorou um pouco para dar sinal de vida. Fiquei imóvel olhando pro cara da cadeira ao lado tentando lembrar de onde o conhecia, mas não conseguia. Ele parecia ter saído de um filme antigo. A camisa azul clarinha pra dentro da calça caqui, o óculos retro com armação grossa que escondia os pequenos olhos verdes, aquele topete baixinho penteado pro lado esquerdo do rosto…

“Desculpa, mas acho que você me confundiu com alguém!”
Respondi!

No mesmo segundo, ele disse exibindo um sorriso tímido que revelava os perfeitos dentes brancos:
“Isso jamais aconteceria! Vai dizer que você não se lembra daquele dia na porta do colégio quando fui te ajudar a recolher os livros do chão e…”

… E eu dei o primeiro beijo da minha vida. Com o cara mais zoado da escola. Ele era 4 anos mais velho do que eu, tinha o apelido de Padre (por curtir usar camisas fechadas até a gola) e sempre que falava, emitia um som estranho por causa do aparelho fixo.

Ou esse cara tinha participado de algum programa de transformação ou, sei lá, o remédio que me deram estava causando alucinações.

“Chris, você vai ficar aqui no hospital ou já está de saída? Topa ir comer alguma coisa comigo?”

Chris topa a saída?

Leia também:
Parte 1 – O sinal
Parte 2 – O resultado
Parte 3 – A verdade
Parte 4 – A solução
Parte 5 – A conversa
Parte 6 – A primeira vez
Parte 7 – O dia em que tudo mudou
Parte 8 – A nova vida
Parte 9 – A revelação